Através de uma mensagem forte, relacional mas, acima de tudo, de esperança, a campanha agora lançada pela Associação Salvador quer alertar consciências para o isolamento permanente vivido pelas pessoas com mobilidade reduzida.
“Vivemos tempos confusos, presos em casa, sem poder sair, sem poder abraçar aqueles de quem mais gostamos, sem poder ir a um restaurante ou ao cinema… Infelizmente, para nós, esta realidade não surgiu agora, com o vírus. Esta é uma situação permanente para quem se encontra dependente de uma cadeira de rodas. As barreiras são diárias e relegam-nos ao confinamento. Neste momento, pelas piores razões, o mundo está solidário com a nossa situação – mesmo que ainda não se tenha apercebido disso. Por isso, queremos transmitir uma mensagem de força. A verdade é que, no combate ao vírus como nas acessibilidades, se cada um fizer a sua parte, há sempre a esperança de que amanhã será um dia melhor”, explica Salvador Mendes de Almeida, fundador e presidente da Associação Salvador.
Assinado pela MSTF Partners e produzido pela TAKE IT EASY, o filme quer aproximar-se do tom e da mensagem que nos habituámos a ver em tantas campanhas publicitárias nos últimos tempos, mas com um twist final, que leva o espetador a pensar no momento de isolamento temporário que vivemos e na forma como esse mesmo isolamento é vivido, de forma permanente, por tantas pessoas com deficiência motora.
A realidade atual, mostra-nos um país pouco acessível e a duas velocidades que, inevitalmente, se reflete na liberdade, na autonomia e na qualidade de vida das milhares de pessoas com deficiência motora que não têm a possibilidade de decidir o seu próprio futuro, seja porque o mercado de trabalho não está preparado, nem disponível para os receber ou porque, diariamente, se deparam com verdadeiros “muros”, intransponíveis a uma cadeira de rodas. A mudança é simples e está ao alcance de cada um de nós contribuir para um país aberto e acessível a todos.
Em Portugal, são muitas as pessoas com deficiência motora que vivem em isolamento permanente e a Associação Salvador luta diariamente pela sua integração na sociedade.
Infelizmente, a propagação do vírus e o confinamento social alargado a toda a população, vieram acentuar ainda mais o isolamento das pessoas com deficiência que, hoje, se vêem muitas vezes sem assistência, presas em casa e sem acesso a necessidades básicas. Uma população de risco que, nesta fase conturbada, necessita do apoio e envolvimento de todos.
“Hoje, são já 26 anos que vivo privado de poder entrar na maioria dos serviços públicos, restaurantes, lojas, de ir a casa de amigos, de poder passear na maioria das ruas das nossas cidades… tudo porque a nossa sociedade não foi construída a pensar nas acessibilidades. A “vossa” vida por agora está suspensa, contudo em breve vai ficar tudo bem. Eu continuarei em isolamento enquanto não existir uma sociedade pensada e preparada para todos”, Ricardo Teixeira, tetraplégico há 26 anos, devido a um acidente de mergulho.
“A grande maioria da população está em casa, entediada por estar isolada, desesperadamente à espera que possa voltar a sair à rua e à “sua normalidade”. A verdade é que, quando as portas se abrirem, não se vão abrir para todos. Porque algumas vão continuar a estar fechadas para quem, como eu, precisa de uma cadeira de rodas para se deslocar. E esta é a minha “normalidade”, até que o mundo comece a pensar em todos”, Marta Canário, paraplégica há 29 anos, devido a uma intoxicação provocada por monóxido de carbono que se libertou do esquentador, enquanto tomava banho.
“O mundo gira e dá voltas, que nos levam a constatar que a vida que conhecemos e damos como adquirida, no minuto seguinte, deixa de o ser. São 6 anos em que convivo com a realidade de ficar excluída de espaços públicos, como farmácias, cafés, lojas. O isolamento e distanciamento social que o mundo está a viver, eu e muitas pessoas como eu, já o conhecemos, isto porque não existe uma sociedade inclusiva feita a pensar em todos!”, Sandra Manuel, paraplégica há 6 anos, devido a um crime de violência doméstica.
Ao longo de 16 anos, a Associação Salvador já apoiou mais de 3.400 pessoas, através de obras em casa, integração profissional, desporto adaptado, entre outros projetos. Tem também realizado um trabalho intenso de sensibilização e pressão para uma mudança nas acessibilidades do nosso país e em escolas, para criar uma sociedade mais inclusiva.
Dadas as circunstâncias atuais, a Associação Salvador viu-se obrigada a repensar os seus projetos e a adaptar-se a uma nova realidade, encontrando novas formas de chegar às pessoas. Esta resposta, passa, entre outras iniciativas, pela entrega de cabazes com bens de primeira necessidade, pela criação de uma linha telefónica de apoio psicológico, disponível todos os dias, por formações e aulas online ou pela iniciativa “Quarentena Solidária”, leilão cuja receita reverte, na sua totalidade, para o apoio a pessoas com deficiência motora.
Assista ao vídeo, AQUI.